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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

SUS: The Game simula e critica os hospitais públicos do Brasil

O jogo SUS: The Game, é inspirado no Sistema Único de Saúde (SUS) de hospitais públicos do Brasil. O game foi desenvolvido pelos primos Ricardo Bencz (27) e Luiz Alojziak (21) para fazer uma crítica social. A coluna Geração Gamer entrevistou a dupla, para saber detalhes do desenvolvimento do jogo retrô, as experiências de ambos e suas ideias sobre o mercado nacional de videogames.


Como surgiu a ideia de fazer um jogo baseado no hospital público?
“Nosso jogo foi desenvolvido para a game jam Ludum Dare, edição de dezembro. Era um evento online onde os participantes devem fazer um jogo em 72 horas”, explicou Ricardo Bencz, que não gosta de jogos por conta das animações e cutscenes, mas sim pela jogabilidade e pela arte. Justamente por isso, eles buscaram um visual simples, em 2D e Pixel art, para passar o conceito de "You only get one" (que em tradução livre significa “Você tem apenas um”) pedido no evento.


Ricardo Bencz e Luiz Alojziak fizeram o jogo em cerca de três dias, mas tiveram um reforço no time de desenvolvimento. “A ideia inicial de passar em um hospital veio da minha namorada, Cenilda Romero, porque tivemos que ir ao SUS alguns dias antes do evento. Com esse tema em mente, várias ideias começaram a surgir sobre quanto os hospitais públicos são ruins e ao juntar isto com o tema da jam, ficou definido que o jogador deveria sentir como é ser um paciente do SUS e explorar a jornada de achar um único médico que estivesse disposto a atendê-lo”, completa Ricardo.


Se o jogador não encontrar um funcionário do hospital que esteja disposto a atender, a barra de vida cresce até o símbolo de uma caveira. Na falta de atendimento médico, o protagonista do jogo morre doente.

Luiz Alojziak disse que o game se alinha a um tipo específico de jogo que ele aprecia. “Tenho um gosto por jogos indies, independentes, devido a seus criativos métodos de desenvolvimento. Gosto e aprecio games hardcore pelo trabalho no balanceamento entre dificuldade e diversão”, conta o desenvolvedor.

Design e criação do SUS


Todos os elementos do jogo brasileiro apostam na simplicidade. “Nosso foco era fazer um game simples que transmitisse a ideia de maneira fácil e direta, sem o uso de textos. A jam que participamos era um evento internacional e queríamos que as pessoas ao redor do mundo pudessem experimentar esta realidade brasileira”, diz Bencz.


Os recursos técnicos utilizados também foram de fácil uso, para não atrasar a produção. “Quanto a parte do desenvolvimento, baseado no prazo, nós dois usamos ferramentas de prototipagem rápida, o Construct 2, que traz edição gratuita em termos de feedback do gameplay. A escolha de fazer a arte em Pixel Art também foi para se ajustar ao escopo do projeto em três dias. O jogo não precisou de muito detalhamento gráfico, deixando para o jogador imaginar e ver os elementos de sua própria forma”, conclui.

Uma crítica ao sistema precário de saúde pública

SUS: The Game tem um objetivo claro: Criticar os serviços públicos médicos. Ricardo Bencz, Luiz Alojziak e Cenilda Romero não tiveram uma boa experiência no sistema e resolveram questioná-lo no game. “Esta foi nossa forma de protestar contra um sistema falho, porque muitas pessoas já escreveram textos relatando seus problemas e outras criaram charges satirizando o sistema público de forma geral. Como somos desenvolvedores de jogos, criamos uma experiência com teor irônico que seja semelhante ao que passamos quando usamos algum serviço do SUS”, falou Bencz.

O game vai na linha de outros jogos brasileiros simples como V de Vinagre, criado para mostrar os manifestantes que sofreram abusos da Polícia Militar nos protestos de 2013 contra as tarifas de transporte coletivo.


Alguns pequenos elementos de SUS: The Game deixam claro a mensagem final do webgame, que está disponível de graça. Diz Bencz: “Muitas de nossas experiências foram dentro do jogo, como atendentes que ficam navegando em redes como Facebook, Twitter e outras ao invés de atender a população, além da dificuldade de encontrar um médico disposto no estabelecimento”.


A Ludum Dare, que ocorreu entre os dias 13 e 16 de dezembro de 2013, reuniu 2064 jogos. SUS: The Game ficou no 51º lugar, entre os 100 melhores games da competição, representando o Brasil no mundo.

Experiências no mercado de games brasileiro

Um dos criadores do jogo do SUS, Ricardo Bencz não é um novato na cena de jogos do Brasil. “Eu sou responsável pelas animações 2D de Toren, um game brasileiro inspirado em Zelda, e que conta com incentivo da Lei Rouanet através da desenvolvedora Swordtales. Ainda estou trabalhando em algumas partes das animações, mas tudo que fiz até agora foi muito divertido. Existe uma grande liberdade criativa e sinto muito orgulho em ver que minhas animações fazem parte de um projeto em onde todos os envolvidos têm muito amor pela sua criação e estão trabalhando e batalhando duro para que ele fique melhor a cada dia”, diz o criador.

Ricardo Bencz e Luiz Alojziak, no entanto, não se sentem como desenvolvedores de games. Eles trabalham na área de tecnologia e encaram estes trabalhos como ocupações temporárias. “Enxergamos o jogo como algo que gostamos e nos divertimos. É um grande projeto que entra para nosso portfólio, acrescentando também experiência no desenvolvimento, que é algo que você só adquire com a prática”, diz Alojziak.


Bencz finaliza: “Num panorama geral, vemos que a indústria nacional de jogos ainda está engatinhando, mas em passos acelerados, já que muitos desenvolvedores daqui já estão marcando o mercado mundial. Nós trabalhamos como freelancers em algumas partes de jogos, como no caso das animações para o Toren e em games educacionais”.

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